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quinta-feira, 19 de abril de 2007

O Partido Zumbi

Nos últimos anos, o PDT viveu inequívoco movimento de declínio, expresso na queda de apoio eleitoral e na perda de parlamentares e administradores para outras siglas partidárias. Esse processo expressou a inexorável perda de prestígio do seu líder máximo e fundador, Leonel Brizola, que conheceu nos últimos anos fracassos eleitorais históricos.
Com a morte de Leonel Brizola, e sem nenhum líder substitutivo com carisma que se aproxime, minimamente, do detido pelo velho chefe pedetista, vaticina-se o fim inelutável do PDT. Por razões várias, a complexa situação política nacional e mundial não corrobora a atestação fúnebre automática dos herdeiros do varguismo.
De volta do exílio, Brizola deparou-se com país radicalmente diverso do que abandonara em 1964. A expansão capitalista fortalecera o proletariado industrial, sobretudo metal-mecânico, e ensejara a proletarização de segmentos terciários, principalmente bancários e professores.
Nos anos 1976-79, importantes mobilizações permitiram que esses segmentos empreendessem projeto de representação política autônoma dos trabalhadores que impugnava a aliança interclassista entre a burguesia nacional e os trabalhadores urbanos, sob a hegemonia da primeira, que levara à profunda derrota de 1964.
A forte atração do projeto petista mais avançado alienara Brizola da base tradicional do trabalhismo, ensejando que o neo-PDT se enraizasse sobretudo no Rio Grande do Sul, sua terra natal, e no Rio de Janeiro, sua terra de adoção, principalmente entre os segmentos médios e populares, sem jamais se entranhar no coração do operariado, sobretudo paulista e mineiro, onde prosperava o PT.
Hoje, as bandeiras do nacionalismo de esquerda começam novamente a obter o apoio popular. A estatização dos bens privatizados; a expansão do ensino, educação, saúde e segurança pública; o planejamento econômico; a proteção dos mais frágeis pelo Estado; a luta contra o latifúndio; a defesa das riquezas nacionais, etc., são propostas crescentemente apoiadas por uma população golpeada pela mundialização capitalista.
No Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, as multitudinárias manifestações de pesar pela morte do caudilho superam em muito o desmaiado apoio popular que Leonel Brizola e o PDT recebiam nos últimos tempos. Elas representam o reconhecimento de um líder que, por se manter fiel ao programa popular, jamais alcançou a presidência, e uma crítica clara a Lula da Silva que, dobrado pelas benesses do poder, traiu sem dó as expectativas populares.
É difícil prever o futuro político do PDT. Ele perde seu líder máximo no momento em que se valorizam sua bandeiras políticas. Caso mantenha coesão orgânica e política mínima, vencendo a tentação fisiológica de mergulhar de cabeça no regaço governamental, poderá conhecer inesperado revigoramento, apesar da ausência do seu fundador. Também é bastante provável que se disperse, trincado por fortes tendências centrífugas.
Um eventual fortalecimento do nacionalismo de esquerda terminará colocando, novamente, em forma ainda mais fortes, as contradições vividas em 1964. Elas lembrarão, outra vez, o fato de que, no Brasil, apenas um amplo bloco popular, dirigido pelos trabalhadores, será capaz de romper os laços que submetem vilmente a nação e a população brasileira ao grande capital.
(*) Mário Maestri, 56, é historiador. E-mail: maestri@via-rs.net

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