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segunda-feira, 2 de abril de 2007

crux gammata

Ressuscitando a suástica
“O mito - o mito do sangue, o novo sacramento secular da raça - não pode ser criado; trazê-lo de volta não é uma necessidade, mas uma experiência” - Alfred Rosemberg - O Mito do século 20, 1930
Os cristãos dos primeiros tempos e os bizantinos chamavam-na de Crux Gammata utilizando-a principalmente como elemento decorativo. Mas não foi por intermédio deles que essa cruz singular, com seus quatro braços girando no espaço (imagem ao lado), maldita para o homem contemporâneo, chegou à Austria. Supõe-se que isso teria sido obra dos cruzados germânicos ao tempo do reino de Leopoldo III o Santo (1095-1136), quem a trouxeram para a o coração da Europa diretamente do Oriente Médio. Disseram a eles que era a suástica (do sâncrito svastika), a cruz dos ários, um dos símbolos favoritos do povo que invadiu a Índia em tempos imemoriais. Ostentavam-na como sinal de distinção de casta. Eles, os ários, eram a raça superior; os indianos, os dominados, os inferiores. O sucesso dela entre os austro-germanos foi duradouro. Desde o século 8, quando Carlos Magno criou a marca do leste (Östmark), eles assumiram a função de serem um bastião da Cristandade nas margens do Rio Danúbio, defendendo-a dos eslavos ainda entregues ao paganismo. Primeiro marquesado, depois ducado, e finalmente Reino do Leste (Österreich), os austro-germanos aos poucos espandiram-se para os lados da Polônia, da Hungria, da Boêmia e da Croácia, formando o que mais tarde veio a ser o Império dos Habsburgo (1282-1918). Minoritários na Mittel-Europa, os austro-germanos mimetizaram os ários da Índia colocando a suástica (Hakenkreuz em alemão) acintosamente nos frontões dos seus castelos e fortins para mostrar aos demais grupos étnicos quem eram os donos da região. Era o escudo da Deutschtun, da germanidade, afincada nos alpes austríacos. A chegada das tropas de Napoleão em Viena em 1806, trazendo na mochila manifestos irreventes e igualitários, desativou a cruz gamada. Tornaram anacrônico o ícone dos racistas. Mesmo os mais empedernidos conservadores como o príncipe Metternich - o arquiteto da reacionária Santa Aliança, a coligação dos reis que perdurou de 1815 a 1848 - sabiam que travavam uma batalha defensiva contra o liberalismo democratizante que difundiu-se pela Europa ao longo do século 19. O racismo dos austro-germanos porém não deu-se por vencido. Se a nobreza do Império dos Habsburgo , abalada pela Revolução de 1848, não tinha mais fibra para exibir ares de casta, o mesmo não se deu com os líderes populistas que proliferaram no final do século 19. A fobia deles não eram somente os eslavos, mas também os judeus. Acusando a decadente monarquia austríaca de ser "pró-eslava" e "protetora dos semitas", Georg Ritter von Schönerer, um demagogo racista anunciou em 1882 um programa em Linz (cidade onde na adolescência Hitler irá passar uns anos) em favor do trabalho artesão e da pequena propriedade, ameaçados pelo "dinheiro judeu". Defendia até uma Lei de Exclusão para isolá-los. Schönerer, proclamando-se Führer, tentou fazer do anti-semitismo e do ódio ao eslavo um movimento popular, de massas.Com ele o preconceito deixou os salões da nobreza e ganhou as tavernas do suburbio. Resultou que o primeiro prefeito de Viena eleito por voto direto em 1897, foi o popularíssimo anti-semita Karl Lueger que fez campanha "para liberar o povo cristão da opressão judaica" Em 1905 a suástica voltara à moda na Áustria. A Revista Ostara dirigida por um excêntrico monge chamado Jörg von Liebensfelds colocou-a permanentemente na capa. O conteudo era xenofobia pura. Em meio a delírios de superioridade racial ariana, mesclado à fobias aos casamentos mistos, o periódico pregava a esterilização e até o exterminio em massa de eslavos e de judeus. Virou uma das preferidas do jovem Hitler em Viena, que procurou Liebensfelds no seu bizarro castelo de Burg Werfenstein atrás de números atrasados.Deu no que deu. Pois agora, justo na entrada do novo milênio, quando acreditava-se que a maligna cruz desativara-se para sempre - sepultada há mais de 50 anos atrás em baixo das ruinas do IIIº Reich e dos milhões de cadáveres que ela vitimou - seus tétricos braços voltam a movimentar-se. Parecendo mãos de defunto sepultado vivo, removendo o pavoroso entulho de cima de si, a suástica ressuscita nas terras da Áustria e com sua voz cavernosa de coisa do além, ruge "Heil Haider! Heil Haider!".

Georg von Schönerer(1842-1921)
Verein der Deustschen Volkspartei(Partido do Povo Alemão), 1881
- Programa de Linz [1882] Pan-germanismo, unidade da Alemanha com a Áustria (grossdeutsch)- Dissolução do Império dos Habsburgo na Áustria e formação do Império Germânico.- Reforma social e nacionalismo.- Defesa da indústria doméstica contra o "capital judaico"- Lei de Exclusão contra os judeus e os eslavos emigrados vindos do Leste europeu.

Karl Lueger(1844-1910)- primeiro prefeito de Viena, eleito em 1895
Partido social-cristão (1890) - movimento de massas que inspirou Hitler
- Socialismo cristão, anti-liberal, anti-social-democrata e anti-semita- Conservou a lealdade à monarquia Habsburgo- Protofascista- Campanha: livrar a cristandade austríaca "da opressão do capital judaico"

Adolf Hitler(1889-1945)
- Nationalsoziatistische Arbeitenpartei(Partido Nazista, fundado em Munique, em 1919)
- Programa dos 25 pontos- Anti-comunista, anti-liberal e anti-semita- Áustria e Alemanha formariam uma só entidade política (Anschluss)- Exclusão civil dos judeus e dos eslavos- Proibição da Mischlinge (casamentos mistos)- Colonização do Leste Europeu pelos germanos (Drang nach Öster)- Germanos como Herrenvolk (raça superior)
Artur Seyss-Inquart(1892-1945)
Die deutsche Gemmeinschaft (A Fraternidade Germânica), 1918-sociedade secretaPartido nacional-socialista austríaco
- lutar pela manutenção da pureza racial alemã- anti-semitismo- a favor da integração da Áustria com a Alemanha (Anschluss)

Jörg Haider(nascido em 1950)
Freiheit's Partei Österreich(Partido da Liberdade)
- Leis de deportação dos imigrantes- Fechamento da fronteira à imigração- Condenação a indenização dos judeus vítimas da perseguição- Restrições à União Européia- Rejeição à futura integração dos países do leste, especialmente do eslavos, na União Européia

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