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terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Quem disse que fascismo tá morto e enterrado? Os yankees que o digam!

Fascismo liberal soa como um oxímoro – ou um termo para os conservadores insultarem liberais [*] . Na realidade, foi um termo cunhado por ninguém menos do que o respeitado e influente escritor socialista H.G. Wells, que em 1931 exortava correligionários progressistas a tornarem-se “fascistas liberais” e “nazistas iluminados”. De verdade.
Suas palavras, de fato, encaixam-se num padrão muito mais amplo de fundir socialismo com fascismo: Mussolini era uma proeminente figura socialista que, durante a I Guerra Mundial, afastou-se do internacionalismo em favor do nacionalismo italiano e chamou a mistura de fascismo. De modo semelhante, Hitler liderava o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Esses fatos têm efeito desagradável, pois contradizem o espectro político que deu forma a nossa visão de mundo desde o final dos anos 1930; visão que coloca o comunismo na extrema esquerda, seguido do socialismo, o liberalismo ao centro, o conservadorismo, e só então o fascismo, na extrema direita. Mas este espectro, nota Jonah Goldberg em seu brilhante, profundo e original novo livro, Liberal Fascism: The Secret History of the American Left from Mussolini to the Politics of Meaning [Fascismo Liberal: a História Secreta da Esquerda Americana, de Mussolini à Política de Significado], reflete o uso que Stalin fazia de fascista como um epíteto para desacreditar a quem quer ele desejasse – Trotsky, Churchill, camponeses russos – distorcendo a realidade. Já em 1946, George Orwell notava que fascismo havia degenerado, significando “algo não desejável”.
Entender o fascismo em sua total extensão requer colocar de lado a distorção do termo feita por Stalin, e também olhar além do Holocausto e retornar ao período que Goldberg chama de “momento fascista”, mais ou menos entre 1910 e 1935. Sendo uma ideologia estatista, ou estatizante, o fascismo usa a política como ferramenta para transformar a sociedade de indivíduos atomizados num todo orgânico. Assim o faz pela exaltação do estado acima do indivíduo, do conhecimento especializado acima da democracia, do consenso à força acima do debate e do socialismo acima do capitalismo. O fascismo é totalitário no sentido original que Mussolini dava ao termo: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. A mensagem do fascismo se resume a “Chega de conversa, mais ação!”. Seu apelo duradouro é fazer com que as coisas aconteçam; é obter resultados.
Em contraste, o conservadorismo propugna governo limitado, individualismo, debate democrático e capitalismo. Seu apelo é a liberdade e deixar os cidadãos em paz.
O triunfo de Goldberg é estabelecer o parentesco e semelhança entre comunismo, fascismo e liberalismo[**]. Todos derivam da mesma tradição que remonta aos jacobinos da Revolução Francesa. Seu espectro político revisado enfocaria o papel do estado, indo do libertarianismo ao conservadorismo e ao fascismo em suas muitas formas – americana, italiana, alemã, russa, chinesa, cubana e assim por diante.
Tal como sugere essa listagem, o fascismo é flexível; diferentes iterações diferem em especificidades, mas partilham dos mesmos “impulsos emocionais e instintivos”. Mussolini adaptou o programa socialista para enfatizar o estado; Lênin fez dos trabalhadores a vanguarda do partido; Hitler colocou raça na equação. Se a versão alemã era militarista, a americana (que Goldberg chama de fascismo liberal) é quase pacifista. Goldberg cita o historiador Richard Pipes quanto a esse ponto: ”O bolchevismo e o fascismo eram heresias do socialismo”. Ele prova esta confluência de duas maneiras:
Primeiramente, ele oferece uma “história secreta da esquerda americana”:
O Progressivismo de Woodrow Wilson caracterizava-se por um programa “militarista, fanaticamente nacionalista, imperialista e racista”, tornado possível pelas exigências da I Guerra mundial.
O “New Deal fascista” de Franklin D. Roosevelt erigiu-se sobre e estendeu o governo de Wilson.
A Great Society de Lyndon Johnson estabeleceu o moderno welfare state, “a insuperável fruição” (até agora) desta tradição estatista.
Os viçosos revolucionários da New Left nos anos 1960 realizaram “uma atualização americanizada” da Old Right européia.
Hillary Clinton espera “inserir o estado profundamente na vida das famílias”, um passo essencial do projeto totalitário.
Resumindo quase um século de história, se o sistema político americano tradicionalmente encorajava a busca da felicidade, “mais e mais de nós queremos parar de persegui-la e a queremos entregue em casa”.
Em segundo lugar, Goldberg disseca os programas liberais [i.e., de esquerda] – raciais, econômicos, ambientais, e até mesmo o “culto ao orgânico” – e mostra as afinidades destes com os programas de Mussolini e Hitler.
Se este resumo soar entorpecente ou estarrecedoramente implausível, leia Liberal Fascism inteiro, por suas citações vívidas e documentação convincente. O autor, até agora conhecido como um polemista inteligente e muito bem preparado para disputas, provou-se um pensador político de primeira ordem.
Além de oferecer uma maneira radicalmente diferente de entender a política moderna, na qual fascista não é uma calúnia maior do que socialista, o extraordinário livro de Goldberg dá aos conservadores as ferramentas para responder a seus atormentadores esquerdistas e por fim, partir para o ataque. Se os esquerdistas podem levantar eternamente o fantasma de Joseph McCarthy, os conservadores podem contra-atacar com Benito Mussolini. [*] NT: Para maiores detalhes sobre a terminologia americana do Liberalismo, ver: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=6215&language=pt
[**] NT: Aqui não há qualquer confusão; o liberalismo europeu tem sua origem no movimento revolucionário. Se mais tarde se une aos conservadores europeus e adota contornos mais conhecidos através do liberalismo econômico, não há como negar as origens revolucionárias.
Publicado pelo Jerusalem Post. Também disponível em danielpipes.org

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