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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Gramsci Explica

Meu artigo no O Estado, 23/09 - Bruno Pontes

Após cinco anos intelectualmente perdidos na faculdade de jornalismo, chegou o momento de escrever o diabo da monografia, e eu, sem o menor interesse naquela chatice acadêmica, concluí que o melhor a fazer era juntar trabalho e prazer, exercitar a veia prolixa para encher não sei quantas páginas e, se tudo desse certo, passar na banca como cobra, me arrastando.

Eu iria escrever sobre o Diogo Mainardi e seus artigos publicados durante o desenrolar do mensalão. Num curso de jornalismo de universidade federal, é o equivalente a propor uma apologia do Satanás como trabalho de conclusão do seminário de formação cristã. A diversão que eu previa com aquela empreitada começou já na hora de arranjar um orientador. Liguei para um professor e, se a memória não falha, foi assim:

- Professor fulano, preciso de orientador. Vou escrever sobre o Diogo Mainardi e os artigos dele sobre o mensalão e...
- Bruno, você me desculpe, mas eu não vou te orientar não. O Mainardi, pra mim, é um picareta, um vigarista. Aquilo não é jornalismo.

Recordando, parece engraçado e é, mas na hora eu fiquei assombrado. Picareta? Aquilo não é jornalismo? Não pude deixar de visualizar aquele homem ensinando aos seus jovens e impressionáveis alunos que a denúncia desassombrada dos podres do governo petista é um exercício de vigarice, de picaretagem, de antijornalismo.

Hoje o PT promove um ato em favor da censura da imprensa. Os petistas estão dizendo que a mídia golpista quer “castrar o voto popular e tem como objetivo deslegitimar as instituições democráticas a duras penas construídas no Brasil”. Nisso os petistas estão cumprindo as ordens do Estadista Global, que entende a liberdade de imprensa como a liberdade de falar o que o partido aprova e vê nos filiados ao partido a opinião pública encarnada. Quem conhece um pouquinho de política sabe que a declaração de Lula ecoa a essência do totalitarismo. Nada contra o Estado, nada fora do Estado. E o Estado é o PT.

O ato a favor da censura em nome da democracia será realizado justamente em um sindicato de jornalistas. As almas simplórias poderão ver nisso uma contradição, mas não há motivo para espanto. É só mais um sinal de um processo antigo e contínuo. O PT não teria chegado aonde chegou sem a ajuda de seus intelectuais orgânicos espalhados pelas salas de aula do nosso Brasil, ensinando aos seus jovens e impressionáveis alunos que jornalismo de verdade é só aquele que serve ao moderno príncipe

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